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MAN ON FIRE: Como destruir seu legado em 30 segundos - by Rhandy Di Stéfano


Algumas pessoas me perguntaram qual a minha opinião sobre o famoso tapa no Oscar. Não vou perder seu tempo descrevendo o que aconteceu, nem repetindo pela milionésima vez a mesma foto, mas preferi esperar alguns dias para ter mais dados e tentar entender melhor o todo.


Noto que já é um tema que virou jogo de futebol, com torcedores defendendo de forma apaixonada o seu lado, o que agora gera mais um personagem: o torcedor em si.


Então temos vários personagens neste filme: aquele que fez a piada ofensiva, aquele que deu o tapa, e o torcedor.

Como em todo bom drama, todos podem estar errados, mas com certeza todos tem a sua justificativa para defender a sua posição. Julgar de fora é fácil, mas é um exercício fútil, pois não dá para dizer “eu faria diferente”, se você não passou pelas mesmas condições.


Mas e se eu me tornasse um quarto personagem? O observador que tenta apenas avaliar o que se pode aprender deste evento.


Alguns pontos que observei:

1) Estamos nos pós-pandemia, saímos de uma guerra com a Covid de dois anos, estamos com os nervos à flor da pele, mais reativos, mais agressivos, pois somos uma sociedade sofrendo com estresse pós-traumático. O efeito psicológico da guerra dura por meses, até anos. O efeito desses dois anos ainda perdura. Estamos superreativos sim.


2) Por um lado: Piadas antigas, humor ácido, ofensivo nunca foi aceitável. A diferença é que as pessoas engoliam e se calavam no passado. Hoje não mais. A mesma coisa que as pessoas deixavam passar antigamente, hoje é considerado abuso. Temos que fazer um update no nosso entendimento do que realmente machuca as pessoas.


3) Por outro lado: ser uma pessoa pública em evidência significa aprender a lidar com roasting (piadas às suas custas). Se você não aguenta, talvez esteja se achando importante demais, então está na hora de descer do pedestal.


4) Por um lado, tentar fazer graça com um problema físico do outro não gera ganho algum que justifique a dor causada – mesmo que o Chris Rock jure que não sabia da doença da Jada Pinkett. Mesmo que não houvesse doença, existe toda um ditadura histórica envolvendo insultos que a mulher afro-americana recebeu ao longo dos anos. Tocar numa ferida destas nunca é piada. Ele tocou no que é algo uma das maiores dores da vida dela em público, em cadeia global...


5) Por outro lado, a reação do Will Smith (que inicialmente riu da piada, até cair a ficha que a esposa estava ofendida) traz a tona a tal da masculinidade tóxica. Ou seja, vamos voltar ao homem das cavernas, que defendia matando os inimigos. Vamos voltar ao mundo olho-por-olho, dente por dente. Temos dois antigos, o jeito de fazer piada é antigo, e a reação do homem “protetor” que parte para agressão física também antiga. O que choca é que vem de alguém que se mostra como moderno.


6) E por outro lado ainda: a vida do Will Smith não começou naquele momento, imagino quais dores, medos, traumas ele carrega do passado, que estavam todos ativados naquele momento, principalmente pela ansiedade extrema de estar perto da maior vitória da sua vida. Como disse o “mestre” Denzel Washington: "nos momentos mais altos o demônio vem nos buscar, i.e., o nosso ego infla e achamos que somos os donos do mundo. Como ousas insultar o dono do mundo? Exijo justiça!"


7) Por um lado, o casal Jada e Will tinham o direito sim de expressar sua insatisfação. A questão é o “como”. Há anos ouço executivos nos meus cursos lutando pelo direito de lutar pelos seus direitos, de reclamar, de bater de volta. A questão é que se confunde a forma com o conteúdo. Reclame, lute pelos seus direitos, mantenha sua masculinidade, a questão é o “como”.


8) Por outro lado, a maneira que o Will Smith escolheu reivindicar seus direitos fez dele o vilão. Provavelmente destruiu seu legado, destruiu a própria celebração do filme que ele fez, roubou o evento onde outras pessoas também tinham o que celebrar. Nas redes sociais, muitas mulheres já estão dizendo que ele mostra sinais de alguém que pode ser um perigo para Jada, pois há o risco desse agressor cometer violência doméstica. Uau, o “protetor” agora se tornou o “agressor”. Esse é o resultado que conseguiu.


9) Por outro lado ainda, ele é um gigante perto do Chris Rock. Será que ele teria dado um tapa se ao invés do Chris Rock, quem tivesse feito a piada fosse o Dwayne Johnson, com seus 120 quilos de músculos? Duvido. O ser humano só agride quando pode se dar o luxo de se descontrolar, senão eu garanto ele se controla, pois ninguém é bobo.


10) Não vamos esquecer do detalhe da agressão: um tapa na cara de mão aberta. Nos EUA, quando eu conduzia grupos de terapia para homens violentos, eu lembro que eles me diziam que: se era para apanhar, que levassem um soco. Não havia nada mais humilhante para o homem do que o tapa na cara. Ou seja, não vou apenas revidar, vou humilhar.


11) Por um lado, Will Smith tentou se desculpar, fazendo um discurso usando as palavras Deus, protetor, ser um rio para seu povo, e o “Amor nos faz fazer coisas malucas”. Muitos se sensibilizaram com as palavras bonitas. Bonito ver essa sensibilidade, não?


12) Por outro lado, assistimos ao maior momento de dissonância cognitiva de Hollywood. Então qual a mensagem? Tudo bem perder o controle, contanto que a gente diga algumas palavras bonitas depois? By the way, não use o amor como desculpa para a agressão. O amor nos faz ter atos de amor. A raiva é o que nos faz ter atos de agressão.


13) Por outro lado ainda, eu cresci em Los Angeles, rodeado de celebridades na cidade. Eles vivem um mundo de privilégio, o que os coloca numa bolha onde são tratados como deuses, e acabam se achando deuses, acima do bem e do mal, melhores que os outros. Daí o discurso “Deus está me chamando para ser...”, “ Quero ser um rio para o meu povo...”, “Quero trazer luz...”. Não se coloque este peso, não precisa tanto. Ninguém é tão importante assim, somos mais médios do que pensamos. Se você simplesmente conseguir lidar com suas frustrações de maneira eficaz, já estaremos satisfeitos.


14) Por um lado, um professor de Stanford disse que cada um enxerga um ponto nesta situação, pois vemos o evento de acordo com nossa própria história de vida. Qual o nosso ponto de dor? Quando você foi humilhado na frente dos outros? Quando foi atacado, insultado? Quando levou uma bofetada? Quanto ouviu palavras acidas sobre você? Quando foi menosprezado? Quando teve que lidar com bully fazendo papel de vítima? Quando se sentiu enganado com palavras vazias? E assim buscamos justiça e buscamos alguém que se vingue por nós, como num filme de Tarantino, onde os judeus matam todos os nazistas. Admiramos os justiceiros.


15) Por outro lado, os ingressos para os shows de Chris Rock explodiram de vender. Essa é ironia, tenho lido mais e mais comentários sobre o profissionalismo dele, a capacidade de se manter focado e terminar a apresentação. Quantos de nós teríamos esta capacidade? Imagine alguém te dar um tapa no meio de uma apresentação para a diretoria da empresa e você terminar a apresentação mesmo assim? Assim, que começou como vilão está sendo chamada de herói por alguns. Porque também admiramos os equilibrados, mostram poder de foco extraordinário.


Esta é a complexidade humana. Temos argumentos para todos os lados, não existe o bem e o mal definidos, há nuances em cada interpretação.


Quais as lições principais deste evento para a nossa vida?


- O dinossauro desrespeitoso, que faz piadas de mau gosto, tem que se atualizar, pois os outros não toleram mais. Quanta vezes somos dinossauros e nem notamos?


- Não perca foco da meta. 40 minutos antes da maior vitória da sua vida, Will Smith acabou com a sua reputação. Nos bastidores, estavam considerando prendê-lo antes do resto da premiação. Será que o desabafo emocional valeu a pena? A emoção temporária é mais importante do que a meta de uma vida?? Quantas vezes perdemos foco da meta principal por causa de alguma emoção que nos distrai?


- O melhor conselho que ouvi nestes dias: Use suas palavras. Se ele tivesse usado as palavras ao invés da mão, sairia como uma lenda, e um modelo a ser seguido, e só quem ficaria envergonhado seria o agressor inicial. Quantas vezes estamos com raiva, mas conseguimos nos controlar e resolver de forma civilizada, apenas com palavras?


- Cuidado com discursos incongruentes. Alguém agredir e depois falar de amor é algo que eu via no ciclo da violência de homens violentos, usado para iludir as vítimas. Palavras são vazias, olhe apenas as ações. Não se deixe enganar. E para você, que acha que falar bonito conserta tudo, não seja ingênuo.


- Cuidado extra para os jovens! Jovens imitam celebridades – li sobre um pai que aconselhou ao filho que este tapa é exemplo do que não fazer, principalmente porque o filho não era o Will Smith, então não teria tratamento de celebridade como o Will Smith.


- Nos interessamos por justiça, mas admiramos mesmo o poder do equilíbrio, da dignidade, mostra que a pessoa tem poder sobre ela mesma.


- E o mais importante lembrete: a emoção nunca é mais importante do que a meta principal. Nunca!!

Este é o segredo de grandes empresários, de grandes atletas, de grandes líderes da humanidade. Se você lembrar e viver isto, então sim será a lenda.





Rhandy Di Stéfano é considerado 'o coach dos coaches'. Um dos melhores treinadores da atualidade, é aclamado internacionalmente, principalmente, por empresários e executivos de alto escalão, pelo seu conhecimento, experiência e por suas habilidades como um visionário, sempre um passo a frente, trazendo substanciais inovações para o campo de coaching. Um dos únicos profissionais a quem os coaches confiam totalmente quando precisam de auxilio pessoal ou supervisão para seus projetos. O impacto de seus cursos tem sido tão abrangente que se tornou a referência nacional de excelência em coaching. No Brasil, tem 3 livros publicados:

  • O Líder-Coach®: Líderes criando Líderes, Editora Qualitymark - este livro é sucesso absoluto no mundo corporativo, sendo leitura obrigatória para gestores de várias empresas e de programas de MBA.

  • Manual do Sucesso Total - esgotado

  • Vencendo os Limites – esgotado


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