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Lições de Tony Bennett - Parte II: resiliência


Completando minha homenagem a Tony Bennett, este artigo cobre uma reflexão que surgiu quando escutei a letra de uma de suas músicas no seu show. Como se não bastasse ver um show memorável, ainda tive o bônus de me fazer refletir.


A canção é They All Laughed e a letra tem frases como:


As chances contra mim era 100 contra 1

O mundo achava que os picos eram altos demais para escalar

Todos riram de Cristovão Colombo quando disse que o mundo era redondo

Todos riram quando Edison fez gravação de sons

Todos disseram a Marconi que não ter fio era uma farsa

Eles riram do Rockefeller Center e agora brigam para entrar

Ford e seu (carro) Lizzie mantinham as risadas ocupadas

É assim que as pessoas são

Agora estão se desculpando

Quem está rindo por último?


Em todos os cursos que dou, seja treinando coaches ou treinando líderes, o tema resiliência é um dos mais importantes. Basicamente, o conceito de resiliência tem a ver com a capacidade de ir em frente, de ficar em pé, de lidar com as adversidades da vida. É o tal do ‘Não desista’, que ouvimos tanto e já virou um grande cliché. O problema é que atrás de um cliché como este existe toda uma estratégia mental e emocional que, se não for desenvolvida, nada vai acontecer. Reconheça que o ‘ Não desista’ virou um cliché, porque muitos falam mas poucos fazem.


Assistir ao show do Tony Bennett é assistir um espetáculo de resiliência. Aquele cantor de sucesso sendo ovacionado pelo público resistiu à uma infância de pobreza e doença, teve que parar de estudar aos 16 anos para sustentar a família, lutou na Segunda Guerra, ganhou e perdeu dinheiro, passou por separações, vício em drogas, competição de estilos modernos de música (leia-se rock), teve um fracasso tão grande na sua tentativa de atuar no cinema que todas as portas se fecharam e quase foi para o esquecimento até conseguir recobrar sua carreira. Mesmo hoje, bem-sucedido, segue em frente dando shows apesar da vontade do corpo de 90 anos de parar. Ao invés disso, se espelha em Fred Astaire e Pablo Picasso, que continuavam trabalhando apesar da idade avançada. Não só ele não para, como também conquistou toda uma nova legião de fãs com suas colaborações com músicos mais jovens, como Lady Gaga.


Ele é um dos milhões de vidas bem-sucedidas de pessoa que, apesar de tudo e de todos, não desistiram. Assim como diz a letra da música, passou por dificuldades, lidou com chances mínimas de sucesso, ousou ir em frente apesar das alturas a escalar e hoje é ele quem ri por último. Lidou, encarou, continuou, venceu!


Por outro lado, outros milhões desistem o tempo todo. Vão desistindo aos poucos, decidindo não lidar com inconvenientes ou chatices e, sem perceber, vão treinando o hábito de desistir.


Tudo na vida é hábito, então tudo é treinado. O problema é quando vamos treinando hábitos de forma inconsciente. E um dos mais perigosos é o hábito de não querer lidar com aquilo que incomoda, como se os problemas fossem ser resolvidos magicamente com o passar do tempo.


As pessoas fazem manha só de pensar e antecipar que algo possa ser difícil. Imagine quantas pessoas você conhece cujo grande objetivo de vida parece ser, se esquivar de ter que lidar com situações difíceis.


A pessoa que não lida, não encara e não resolve e, vai criando, com o tempo, o hábito de evitar o desconforto e vai perdendo também a capacidade de resolução. Assim cria-se uma bola de neve, onde a falta de resolução gera a crença que as coisas não tem melhoria, gerando um estado emocional geral de impotência perante a vida. Daí para a depressão é apenas um passo.


Fritz Perls, criador da Gestalt terapia, já dizia que a maneira número um para lidar com depressão é a pessoa entrar em ação. Ação para qualquer coisa, ação para gerar movimento, para gerar energia e combater o senso de vitimização e impotência.


Se tudo é hábito, então a resiliência é um dos hábitos mais saudáveis e produtivos que o ser humano pode treinar. Na prática, significa encarar e resolver o que está pendente na vida, o que gera desconforto, saindo da ilusão que o tempo resolve alguma coisa. É parar de abrir mão do seu poder de resolução, é parar de esperar que outros resolvam o que você precisa resolver.


Sucesso, seja na empresa, seja no casamento, não é fruto da mágica, a não ser a mágica de aprender a resolver problemas. Desafios vão acontecer, faz parte. As pessoas irão lhe criticar, faz parte.


O que dá diferença é como a pessoa lida com os desafios. Alguns encaram, outros desistem. Alguns lutam por anos, décadas, outros desistem em segundos, à primeira crítica desabam.


Pior, os desistentes acabam atraindo outros desistentes na mesa de bar e, juntos, criam teorias falsas, atribuindo o sucesso dos outros a sorte ou a algum fator mágico. E assim bebem para afogar a própria impotência, achando que sucesso só pode acontecer por fatores aleatórios. Para eles casamentos são uma prisão, empresas são um inferno, filhos são um carma, dietas não funcionam, a vida é um peso.


Enquanto isso, em outras mesas, os resilientes trocam informações sobre estratégias que funcionam, o que um fez que deu certo, como se manter em pé, como ir em frente, como resolver. Para eles casamentos geram crescimento, empresas geram prosperidade, filhos são o legado que vão deixar, tem controle de sua saúde física e mental e a vida é uma sucessão de vitórias e momentos memoráveis.


A vida oferece os mesmos desafios e oportunidades para todos, o que muda é apenas o endereço. De resto, as ofertas são as mesmas. Os mesmos problemas, as mesmas oportunidades. O que diferencia é, qual a estratégia, é como lidar. O que diferencia é o fator, você.


Em qual mesa você vai se sentar?

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