Como será assumir a própria vulnerabilidade?
Esta pergunta desperta em todos nós, a princípio, um sentimento de que não devemos expor as nossas fraquezas, sob pena de que elas possam ser usadas contra nós. Vem sendo assim em qualquer área da vida de que estivermos falando: talvez a gente não se abra em um relacionamento amoroso por medo do julgamento do outro; no mundo corporativo, tão competitivo, talvez confessar que existem assuntos de que a gente não sabe seja considerado ingenuidade e abra espaço para críticas e conclusões precipitadas sobre nós; talvez seja esse mesmo 'mindset' que vemos no mundo dos esportes quando atletas de todas as idades têm muita dificuldade de assumir seus medos e suas expectativas sob pena de ser visto como fraco ou 'amarelão'.
Mas fica aqui uma outra pergunta: quem nunca passou por situações de dúvida, apreensão e medo em alguma área da vida?
Falo isso com propriedade, pois fui atleta de alto rendimento dos 12 aos 25 anos de idade. Segui todo o caminho desde o pré-mirim até seleções brasileiras e experimentei esse medo em diferentes proporções e desafios, da mesma forma que vi essas e outras dificuldades comportamentais serem vividas por outros jogadores à minha volta.
Assisti a uma palestra de uma influenciadora digital, Andréa Janér, falando sobre os 'highlights' de um evento chamado South by Southwest (SXSW), um conjunto de festivais de cinema, música e tecnologia que acontece toda primavera em Austin, Texas, Estados Unidos. Ela conta que agora, em 2019, aconteceu o encontro mais humanizado dos últimos tempos. Muitos temas e palestras interessantes trouxeram a realidade de algo que é premente no mundo de hoje: a ideia de que a vulnerabilidade, uma vez assumida com sabedoria vem se tornando uma ferramenta poderosa para desenvolver competências e construir relacionamentos colaborativos e verdadeiros.
O conceito de vulnerabilidade foi trazido com um novo frescor, em outro nível de entendimento. Quando os quatro maiores formadores de opinião do planeta - os CEO's da Apple, Facebook, Google e Amazon -, presentes no evento, perguntaram a Brené Brown, célebre pesquisadora e escritora de vários best-sellers na área de desenvolvimento humano, de que forma a tecnologia poderia caminhar para estar mais a serviço de reaproximar as pessoas e o que eles poderiam fazer para incentivar as inovações nesse campo, eles foram surpreendidos com a resposta. E a resposta para essas pessoas consideradas tão poderosas foi muito simples: exponham suas vulnerabilidades.
Uau, isso sim é poderoso! Acompanhem comigo: como, por exemplo, em uma posição de liderança, podemos incentivar nosso time a trazer ideias novas sem deixar claro que você próprio não tem essas ideias novas? Na verdade a premissa básica é assumir a própria ignorância de um novo processo, por mais que você tenha tido muito sucesso até aqui. O caminho da inovação é infinito e estar próximo ao outro (s) com humildade e os sentidos abertos traz uma dinâmica renovada às interações.
Estou falando de conexão, de uma verdadeira conexão, naquela que aproxima as pessoas na crença racional de que somos todos humanos e vivemos numa comunidade global que precisa se ajudar, sob pena de não ter a possibilidade de vislumbrar um futuro com vida sustentável. Um novo mundo de possibilidades se descortina nesse processo trazendo engajamento, colaboração, satisfação e resultado.
Sendo assim, o quão revelador é perceber que para crescer é preciso assumir que existem coisas que não sabemos, comportamentos que não conseguimos gerenciar e competências que precisamos desenvolver!
Não existe processo de coaching sem assumir a própria vulnerabilidade!
Esta afirmação pra mim é um divisor de águas. Além dos óbvios benefícios que esse processo traz em relação ao nosso autoconhecimento, ele descortina nossas vulnerabilidades. E isso vale tanto para o Coach como para o Coachee.
Pelo lado do Coach, o entendimento deve ser de que a atividade é do cliente, de que não deve julgar, de que não deve tentar direcionar as sessões por já ter vivido situações parecidas, treinando estar atento, presente, mas aberto à ideia de que não sabe tudo e de que não tem todas as respostas, se mantendo o mais imparcial possível na condução do exercício.
Pelo lado do Coachee impõe-se a necessidade de ter a clareza e percepção de que precisa melhorar em alguma competência ou comportamento e de que isso vai levá-lo a um outro patamar seja lá em que área for da vida; dessa consciência de si mesmo, e dessa ideia de que temos vulnerabilidades que podem se tornar potencialidades para abrir espaço para um caminho que nos levará a uma melhor versão de nós mesmos.
Aqui é o ponto da virada, a ignição para uma interação verdadeira e rica de significado. Ninguém constrói nada sozinho.
E é a partir dessas conexões que poderemos partilhar o que sabemos. Mas, além disso, e o mais importante, compartilhar o que não sabemos.
Uma vez que isso seja feito com sabedoria, desprendimento e confiança no processo, veremos no trajeto as redes de conhecimento e construção se formando.
Estive nas últimas semanas empenhado, juntamente com um parceiro nesse trabalho, em preparar uma apresentação para vender serviço de Coaching Esportivo para atletas e comissões técnicas de um clube formador em São Paulo.
Tivemos uma reunião prévia com o diretor de esportes e ele nos pediu que nessa apresentação constasse uma proposta de negócio, uma agenda clara e objetiva mostrando a necessidade do processo e seus resultados e que tivesse incluído ainda valores e formas de pagamento.
Até aí tudo bem, pois essa é a prática natural do mercado. Mas nos deparamos com uma dificuldade imensa de entender ao certo o que queríamos vender de fato.
Foi então que, com essa nova inspiração em relação à vulnerabilidade, ficou claro que não queríamos vender uma embalagem e sim o seu rico conteúdo.
O verdadeiro valor está dentro do pacote.
O desafio é: como mostrar na verdade a importância de um processo poderoso como é o Coaching Esportivo sem que o cliente entenda os benefícios reais que a instituição que ele representa vai ter no aumento de performance das pessoas e dos atletas?
Precisamos então trazer para esse gestor a lembrança de uma história dele como desportista que foi, para que com o próprio exemplo compreendido, e minimamente revisto, ele perceba a preciosidade deste trabalho e a demanda cada vez maior que todos nós temos de desenvolver novas competências e comportamentos para sermos mais felizes e livres nessa era que nos impõe tantas provocações.
Não existe processo de coaching sem assumir a própria vulnerabilidade!
Esta me parece ser a forma mais pura e, ouso dizer, reverente sobre o processo de coaching verdadeiro.
O que você me diz disso?
Qual a sua percepção?
Roberto Bosch Muitos me chamam de Betinho. Fui jogador de vólei da seleção brasileira (geração de prata e geração de ouro) e isso diz muito de mim principalmente pela disciplina, esforço e dedicação que a carreira exige. Quando parei de jogar fundei e dirigi a Escola de Vôlei do Betinho que funciona há 20 anos e a Associação Mão na Bola, uma ONG que desde 2003 atua tendo como ferramenta principal o vôlei de praia.
Dediquei boa parte da minha vida à formação de pessoas através do esporte. Também criei e dirigi eventos, competições, projetos e equipes. Sou um maker em constante transformação. Sou também um baiano que morou no Rio por 50 anos e que vive hoje em São Paulo com minha esposa Maria e nossos dois filhos, Tomás e João.
Aqui descobri minha veia de Coach, me formei pela ICI e sigo me transformando. Procuro levar para os outros a oportunidade deles encontrarem a melhor versão de si mesmos. Prezo por honestidade, transparência e fidelidade. Sonho com um mundo em que as pessoas vivam pela comunidade. Ensino aos meus filhos o benefício do esforço. Tento pensar e agir em prol de um bem maior e ser um exemplo pela coerência das minhas ações.
Quero e busco ser todos os dias um cara que valha a pena ter por perto.