Você precisa de heróis?
Lidar com pessoas é sempre surpreendente, pois nunca sabemos de onde vêm algumas pérolas.
Ontem estávamos num restaurante aqui nos EUA e o garçom que nos atendeu disse que já havia jogado futebol americano na juventude. Quando soube de nossa ligação com o Brasil, nos fez várias perguntas: Porque a seleção parece cometer erros semelhantes à ultima Copa? Porque quando o Marcelo sobe para o ataque ninguém cobre o buraco na defesa? Porque o Brasil quer jogar bonito - o toque extra, o passe extra – ao invés de chutar a bola no gol?
O que mais surpreendeu foi que todas as perguntas dele são baseadas em considerações que fazem sentido. Quem sabe se os americanos entendessem tanto de futebol quanto esse garçom, a seleção americana não seria o desastre que é hoje...
Porém esta Copa do Mundo está abrindo nossos olhos para algo ainda mais interessante. Nenhum dos heróis (Messi, CR, Neymar) foi eficaz em salvar o seu país. Talvez isso nos mostre que a época dos heróis já passou (ou está passando), mas continuamos a cultivar esta cultura antiga.
O Preço Como sociedade falamos de trabalho colaborativo, mas continuamos presos à idéia do salvador da pátria. Vemos isso em esportes, em empresas, em famílias.
Veja Lebron James. Acabou de ser contratado pelos Lakers – mesmo depois do fiasco de ter perdido a última final por 4 jogos a zero. Lebron James é um herói sim, mas talvez para o comércio.
Com a presença de Lebron James, 13% mais restaurantes abriram em torno do estádio dos Cavaliers. Agora nos Lakers, o preço do ingresso já subiu 65%. Ele é um espetáculo de ver jogando. Porém perde mais campeonatos do que vence.
Neymar teve impacto tremendo nas vendas de camisas do PSG. Muitos pagariam para ver qualquer jogo em que ele estivesse em campo. E este é o mundo das celebridades, onde pagamos para a qualquer momento ver algo extraordinário.
Porém estes heróis tem um preço. A presença do Lebron James é tão impactante que o time do Cavaliers praticamente se tornou dependente dele. Não havia outros heróis no time, é como se todos estivessem ali para servi-lo. Os outros jogadores jogavam muito abaixo de seu potencial, e preferiam passar a bola para ele, do que tentar algo mais proativo.
Neymar sofreu com a mesma pressão nesta Copa. O time todo o procurava mais do que qualquer outro jogador. O problema é que, ao invés de enaltecer o Neymar, isto acabou rebaixando a capacidade da equipe. Isto acontece de forma inconsciente, os atletas nem percebem o que estão fazendo. É como se alguém diminuísse a sua luz própria para que o outro brilhasse.
Sem contar a pressão sobre-humana sobre o herói que, ao invés de ajudar, acaba atrapalhando a performance. Sem conseguir lidar com a pressão, ele se torna autoritário demais ou dramático demais, sucumbindo sob o peso de ter que salvar o mundo.
Qual a conclusão? Como torcedor do Lakers, não sei o quanto o Lebron James vai ajudar ou atrapalhar. Se o time se acomodar, esperando que ele seja o herói, não tenho boas expectativas. Prefiro um time cheio de pessoas competentes do que um ‘gênio’ que precise carregar o time inteiro.
E você? Como esse mito de salvador da pátria lhe afeta?
Como é na sua empresa? E na sua vida pessoal? Qual parte você pratica hoje em dia?
Você é o herói que está carregando o time todo? Neste caso, corre o risco de ter pessoas acomodadas e dependentes de você. Pessoas que vivem aquém de seu potencial.
Ou você é o acomodado que depende do herói? Neste caso, corre o risco de ser injusto, culpando o herói quando este não entrega aquilo que, na verdade, seria responsabilidade sua.
No final é injusto para todos.
Resista à sedução para se tornar um herói, prefira criar equipes fortes.
Cuidado para não querer se tornar o salvador da pátria, prefira criar famílias sólidas.
Estamos na época do esforço colaborativo. O herói que resolve tudo sozinho parece fazer parte de um tempo que já passou.