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O mito da Cinderela x Liderança Pessoal



Depois de tantos anos juntos em um relacionamento, fica difícil pensar em algum presente que surpreenda seu cônjuge. Recentemente, consegui essa façanha: comprei ingressos para uma peça musical da ‘Cinderela’, que foi encenada na Broadway. Pensei: ‘Se é Broadway, é bom...’


Teatro ótimo, assentos confortáveis. Notei que havia uma quantidade pequena de crianças – porém e claro, vestidas de princesas. A grande maioria era de adultos de diversas faixas etárias. Palco preparado, figurinos ótimos, até que os atores começaram a cantar e, já nos primeiros cinco minutos, comecei a perceber algo diferente no meu cérebro masculino.


Milênios de dominância genética despertaram e essa massa, como a do homem das cavernas, começou a definir os parâmetros de entretenimento: Você está assistindo a alguma competição esportiva?Não! Tem tiroteio, metralhadoras, duelo de espada ou de facas, pelo menos? Não! Tem nave espacial? Não!


Como nenhum desses requisitos era preenchido, de forma incontrolável meus olhos iam se fechando. Eu, que sempre combati o machismo, não estava controlando o meu próprio condicionamento e já sentia o sono chegando, daquele que a cabeça cai e o queixo quase bate no peito.


Já prevendo que, se eu dormisse, eu seria relembrado desse fato durante um bom tempo, decidi prestar atenção em várias outras coisas que aconteciam paralelas à peça. Como sempre me fascinei com o comportamento humano, que tal observar as pessoas enquanto elas observam o palco?


Só então notei que não eram apenas as crianças que estavam vestidas de princesa. Várias jovens adultas estavam de tiara de princesa. Notei que no momento que um personagem na peça pede outra em casamento, a platéia toda vibra. Mas o que mais me deixou fascinado foi a reação à fada madrinha. Quando ela transforma a abóbora em carruagem e as roupas simples da Cinderela em vestido de gala (com sapatinho de cristal e tudo), o público delira.


No final da peça, os atores voltam ao palco um a um para os aplausos e, aí, ocorre um fato fascinante. Quais foram os quatro mais aplaudidos? Em quarto lugar, o príncipe; depois, uma das irmãs da Cinderela, pois o seu papel era engraçado; em seguida, a Cinderela; e, em primeiríssimo lugar, a Fada-Madrinha!


Claro que não podemos usar um simples fato como esse para concluir algo sobre o comportamento humano, mas no mínimo, podemos ter algumas reflexões:


1) Os arquétipos continuam com a força toda: o ser humano continua se emocionando com pedidos de casamento ( o que por si é encantador, não nos tornamos tão cínicos ainda), mas as pessoas vão à loucura quando o pedido é de um príncipe. Principalmente de um príncipe rico que vem salvar a moça que estava mal de vida e era maltratada.


Quantas pessoas ainda esperam algum príncipe, herói ou figura forte externa que lhes dê segurança, e venha lhes livrar do sofrimento e trazer felicidade?


2) Não perca os sinais: uma ótima cena desta versão de teatro foi quando a Cinderela, ao fugir (quando o sino bateu meia-noite), recuou e entregou um dos sapatos de cristal ao principe. Grande jogada! É como se ela dissesse: ‘Não sei se confio muito que você consiga sozinho achar o que é necessário para a continuação da história, melhor eu dar uma ajudazinha...’


Uma das grandes diferenças de líderes bem-sucedidos ou de casamentos bem resolvidos é a capacidade de ler os sinais que, na maioria das vezes, são sutis.


Nem sempre alguém vai deixar um sapato de cristal, precisamos aprender a ler as sutilezas. Para isso, precisamos melhorar algo que é muito falado e pouco praticado: prestar atenção no outro.


3) O risco de parâmetros pouco pensados ou pensados muito rasamente: você já considerou que todo o sucesso da peça depende de o príncipe achar alguma mulher que tenha o pé do tamanho daquele sapatinho? Será que num reino inteiro só existiria uma única pessoa com o pé daquele tamanho?


Parece engraçado quando vemos de fora, mas pense quantas vezes na vida ou na empresa nos associamos a pessoas com base em parâmetros simplistas. Daí tantos relacionamentos que não dão certo, tantas contratações malfeitas, tantas relações frustradas.


4) Queremos soluções mágicas: tudo bem querer mágica na vida. O risco é se você quiser que a mágica venha de fora de você. A Fada Madrinha fez sucesso não porque as pessoas gostariam de ser como ela. Nunca ouvi alguém dizer: Meu sonho é ser a Fada Madrinha. O sonho é ser a princesa, que no fundo não fez nada. Ela foi salva pela fada e depois salva pelo príncipe.


Essa idéia é o que separa as pessoas de sucesso e com alto grau de satisfação das pessoas infelizes com a vida. O infeliz é aquele que diz que quer riqueza, diz que quer emagrecer, diz que quer amor, mas não faz nada em relação ao assunto, ou faz muito pouco a ponto de não conseguir realizar o seu desejo. Porque, no fundo, ele não quer enriquecer, ele quer ser enriquecido. Ele não quer emagrecer, quer ser emagrecido. Ele não quer amar, quer ser amado. Ele não quer se salvar, quer ser salvo.


A Fada Madrinha é o conceito mais modernizado do deus ‘ex machina’, usado no teatro grego, em que um ator no papel de deus descia num cesto para dar ao herói uma arma mágica que, no momento da crise, o salvaria na batalha.


Talvez por isso essas peças sejam chamadas de conto de fadas. São as fadas que estão no poder e as histórias são apenas relatos das façanhas delas. Os príncipes e princesas são apenas personagens secundários. Quem tem o poder é quem faz a mágica acontecer!


Felicidade é fruto da satisfação de pegar as rédeas de sua vida. Em termos práticos, significa observar o espaço que existe entre onde você está hoje e onde quer chegar, para então desenvolver as habilidades que precisa para completar esse caminho.


A mágica existe na nossa capacidade de treinar, melhorar e fazer acontecer! Caso isso não aconteça, ficamos na mão dos outros, esperando ser salvos. E mesmo que eles lhe salvem, são estes outros quem detêm a força. Quem é o dono desse poder é quem faz a mágica acontecer!


E você? O que falta melhorar para começar a criar a mágica que quer na sua vida? Salve-se, emagreça-se, enriqueça-se, cuide-se, ame-se, desenvolva-se, desafie-se, mova-se. Treine ter esse poder.


Esta é a mágica. Todo o resto é conto de fadas.

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